Anestesiologistas, anjos da guarda no processo cirúrgico 

No dia 17 de setembro foi comemorado o Dia Mundial da Segurança do Paciente, data que tem o objetivo de conscientizar os atores da saúde e da sociedade civil sobre a necessidade da implementação das práticas de segurança nos serviços de saúde para minimizar riscos e danos ao paciente, refletindo na melhoria da qualidade do cuidado prestado nos serviços de saúde do país.

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia, por meio da Diretoria de Defesa Profissional, atua ativamente na produção de ações, campanhas e desenvolvimento de projetos que visam à plena conscientização dos anestesiologistas sobre o desenvolvimento de um ambiente seguro para o paciente, que vão desde a consulta pré-anestésica até o acompanhamento pleno na sala cirúrgica. 

Em 2021, por meio do slogan “Segurança do paciente, eu pratico”, a SBA convidou os profissionais da especialidade a assumirem papel de importância na discussão do tema. Para falar um pouco sobre as ações executadas pela sociedade, o diretor de Defesa Profissional, dr. Luis Antonio Diego, concedeu entrevista para a Anestesia em Revista em que conta um pouco sobre o trabalho da Diretoria executado este ano.  Veja a entrevista na íntegra:

Anestesia em Revista: Qual a importância de falar sobre a segurança do paciente no universo da anestesiologia? 

Dr. Luis Antonio Diego: A segurança do paciente é o maior objetivo da anestesiologia, pois a especialidade não progrediria se a segurança não fosse a prioridade. É só olharmos para a aviação: se todos os dias tivéssemos um avião comercial indo ao chão, a aviação comercial possivelmente nem existiria. 

A anestesiologia tem como objetivo cuidar do paciente durante uma proposta operatória. Esse cuidar vai além do ato de se aplicar uma injeção com um anestésico para dirimir a dor e permitir a realização de uma cirurgia. O anestesiologista, durante a sua atuação perioperatória, procura saber de todos os detalhes do paciente, como possíveis alergias, outras doenças que podem comprometer a própria cirurgia e a experiência em procedimentos anteriores.  

AR: Podemos falar que o anestesiologista é essencial para garantir a segurança no processo cirúrgico? Por quê? 

LAD: O cirurgião ou outro médico que esteja fazendo um procedimento, como um exame invasivo, por exemplo, está centrado na execução do seu procedimento, na cirurgia propriamente dita. O anestesiologista vai, no cuidar, fazer todo o possível para que o paciente saia da cirurgia bem: aquecido, sem dor, com as suas funções fisiológicas equilibradas e, na maioria das vezes, com a possibilidade de uma internação hospitalar menor. Por tudo isso, o anestesista é essencial na grande maioria das cirurgias. 

AR: Dia 17 de setembro foi celebrado o Dia da Segurança do Paciente. Qual a importância de falar sobre a data durante todo o ano? 

LAD: Até o final do século XX, a segurança do paciente estava inserida apenas como uma dimensão da qualidade. Entretanto, um estudo muito importante realizado na década de 1990 pela Harvard University, divulgado internacionalmente, mostrou que a quantidade de eventos adversos que poderiam ter sido evitados não era pequena e, voltando à comparação com a aviação comercial, equivaleria à queda de um grande avião de passageiros por dia; a diferença é que a percepção pela população do dano causado não é o mesmo por ser um dano diluído ao longo do tempo e não divulgado, na maioria das vezes, pela mídia.  

AR: Que ações a SBA executa para garantir a anestesia segura? 

LAD: A SBA possui a Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia (CQSA), que está totalmente direcionada para o conhecimento desses eventos adversos e o estudo deles para que atinjam o menor nível possível, muito embora entenda-se que risco zero não existe, pois o imponderável é próprio da atividade humana. 

AR: Recentemente, a Diretoria de Defesa Profissional lançou um app de eventos adversos. Poderia explicar aos nossos leitores qual a função do aplicativo? 

LDA: O aplicativo Emergências em Anestesia se propõe, principalmente, a prover ao anestesiologista o conhecimento sobre as principais dificuldades observadas no ato anestésico. Ele orienta sobre a conduta em emergências, mas também permite que o próprio anestesiologista, de forma completamente anônima, possa fazer o relato de eventos adversos fortuitos. O principal objetivo é o conhecimento do que houve e a divulgação de medidas preventivas.  

O conhecimento desses eventos adversos, que poderiam de algum modo ser evitados, permite que diversas ações sejam realizadas para tentar minimizá-los. O importante é que a SBA, sabendo o que se encontra mais prevalente, possa atuar com atividades de ensino e educação permanente, de modo a alertar a todos sobre essas situações dissonantes com a segurança do paciente e também a qualidade do trabalho do anestesiologista.  

AR: O que é considerado um evento adverso em anestesiologia? 

LAD: Conceituar “evento adverso” não é simples, quando alguém se detém para estudá-lo com maior profundidade. Entretanto, a definição que ainda me parece mais clara é a do Instituto de Medicina dos Estados Unidos:  um “evento que resulta em danos não intencionais ao paciente por um ato de comissão ou omissão, e não pela própria natureza da doença subjacente ou condição do paciente”. Enfatizo que é apenas um resumo do que realmente se tem ao se estudar a segurança do paciente e todos os tipos de situações indesejáveis na assistência.  

AR: Quais projetos a Diretoria de Defesa Profissional está prevendo para este ano? 

LAD: O Departamento de Defesa Profissional da SBA vem atuando em diversas frentes, como a do lançamento do aplicativo, já mencionado, mas também em ações educativas, como webinários sobre o tema. Além dessas ações mais técnico-científicas, também há um grande trabalho da comunicação da SBA, com diversas ações nas mídias da entidade. Fazemos parcerias importantes com outros organismos nacionais, como a Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado (Sobrap), e também internacionais como a própria European Society of Anaesthesiology and Intensive Care (ESAIC).  

O Boletim Minuto é um meio de comunicação que tem sido muito útil para o associado e tem ajudado a compreender melhor o que o anestesiologista deve fazer para ter a segurança do paciente sempre como prioridade. Outra ação é a divulgação de um podcast quinzenal com algum tema relacionado, com convidados experts no assunto e que podem repercutir para toda a sociedade. A CQSA muito colabora nesses canais de comunicação.  

AR: Qual mensagem o senhor gostaria de deixar aos profissionais da área e aos demais leitores sobre a importância da segurança do paciente?  

LAD: Ninguém se submeteria a um procedimento cirúrgico se não houvesse segurança, além da qualidade do serviço, com um cuidado atento e solidário. O anestesiologista é o “anjo da guarda” que está ao lado da pessoa que estará num ambiente hostil, desconhecido e que usualmente encontra-se frágil pela sua condição. Ter ao seu lado um anestesiologista bem formado e atualizado com todas as inovações tecnológicas, além do exercício genuíno da empatia, é o melhor conselho que podemos dar aos novos especialistas ou a todos aqueles que pretendem abraçar essa linda e estimulante especialidade.