Coletânea Covid-19

Luis Antonio Diego

A SBA, a exemplo da grande maioria das instituições e dos próprios indivíduos, aprendeu muito com a pandemia. Foram diversos os tipos de aprendizado: científico, técnico, prática assistencial etc. Entretanto, talvez o mais importante tenha sido o aprendizado de que “podemos muito” quando unimos forças para o desenvolvimento de um bem comum e tentar solucionar um problema de todos.

Nesses dois últimos anos, desde quando a Covid-19 foi elevada ao estado de pandemia, as diretorias da SBA que se seguiram, lograram mobilizar centenas de colegas anestesiologistas de todo o país, e até do estrangeiro, para a tarefa de compartilhar conhecimento e experiências. A mobilização foi vasta e proporcionou um cabedal de informações utilíssimas para a prática assistencial e o cuidado dos pacientes acometidos pelo SARS-CoV2.

Todos os materiais elaborados com esse objetivo têm a oportunidade, − nesse momento de almejada ultimação da pandemia em nosso país −, de ser apresentado aos nossos associados na forma de um e-book, a Coletânea Covid-19, no qual foram organizados de tal maneira que se pode consultar de modo mais acessível. Outro objetivo deste compilado de saberes é permitir que as gerações vindouras tenham um registro desse momento tão desafiador.

A Coletânea está sendo apresentada em dois tomos. O primeiro, que será lançado no mês de dezembro, contém as principais medidas e ações que foram realizadas em 2020, as quais, pode-se afirmar com muita segurança, muito diferiram daquelas realizadas em 2021, que estão arroladas no tomo II da Coletânea que será disponibilizada no mês de janeiro de 2022.

A bem da verdade, por justiça, a obra não é capaz de denominar todos aqueles que, de alguma forma contribuíram para esse relevante trabalho que foi o enfrentamento à pandemia. Assim, aqueles que foram involuntariamente omitidos nas citações, já são apresentadas as mais sinceras desculpas.

ACESSE:


Retrospectiva: Departamento de Defesa Profissional da SBA

O Departamento de Defesa Profissional (DDP) da SBA trabalhou incessantemente com foco na COVID-19 nesses dois últimos anos, orientando os anestesiologistas a exercerem as suas atividades da melhor maneira possível, com qualidade e segurança, frente aos enormes desafios que surgiam diuturnamente.

Ainda assim, foram realizadas diversas atividades remotas que fugiram desse foco e procuraram facilitar o entendimento dos anestesiologistas sobre temas cotidianos que afetam diretamente a vida profissional. O Curso de Fundamentos Jurídicos foi uma dessas atividades que, com certeza, muito contribuiu para que as relações de trabalho tivessem um maior esclarecimento. Outro curso importante do Núcleo de Gestão do Trabalho do Anestesiologista (NGTA) abordou as relações de trabalho com as operadoras, entidades reguladoras e o mercado da anestesiologia, sendo uma enorme oportunidade para que os colegas viessem a conhecer os meandros que afetam o exercício profissional. Tudo está registrado e disponível na plataforma da SBA.

Neste novo ano que se avizinha, a Defesa Profissional da SBA continuará com acompanhando a pandemia e suas consequências, mas, novamente, irá promover diversas ações na direção do aprimoramento profissional com sua carreira de uma forma abrangente. São diversas as frentes e seria impossível aqui, em poucas linhas, descrever os projetos previstos. Entretanto, o projeto Movimento da Anestesiologia pela Segurança do Paciente (MASP) tomará grande parte do tempo e trabalho de toda a equipe do DDP/SBA.

A 13 de junho de 2010 a SBA formalizou perante diversas sociedades europeias o compromisso de promover a Segurança do Paciente; e assim vem sendo trabalhado na SBA. Ocorre que as gerações passam e os compromissos firmados devem sempre ser reavivados para não serem esquecidos. Entretanto, novos conceitos e novas práticas surgem. O etos atual da Segurança do Paciente, especialmente nos aspectos mais diretamente ligados à anestesiologia, já é muito distinto do início da década passada. Hoje já quase “tocamos” o 5 G, o metaverso, a internet das coisas e a inteligência artificial em multiplicidade de funções inimagináveis; novidades que nos impulsionam para um novo patamar de entendimento e compreensão de como lidar com o mundo e, consequentemente, com a nossa profissão. Sem nos apressarmos para melhor compreender essas inovações de um modo mais profundo e completo, estaremos nos arriscando a perder valiosas oportunidades. Ao desperdiçarmos aprimoramentos na nossa profissão, sejam técnicos ou de habilidades não-técnicas, que gerem valor e nos mantenham competitivos no mercado de trabalho, abriremos mão para outros profissionais. Existe a Lei do Ato Médico que foi um avanço muito grande para todos nós, mas, como em todas as Leis, há brechas por onde podem surgir espaços para outros profissionais atuarem naquilo que sabemos fazer de melhor e que também sabemos que somos nós aqueles que sabem fazer a coisa certa.

Em 2022 o DDP continuará atento a tudo aquilo que agride a nossa boa prática e o nosso exercício profissional. Não será, como não tem sido, uma atenção furtiva e descompromissada, mas sim detentora de uma prática firme e muito atuante.


Anestesiologistas, anjos da guarda no processo cirúrgico 

No dia 17 de setembro foi comemorado o Dia Mundial da Segurança do Paciente, data que tem o objetivo de conscientizar os atores da saúde e da sociedade civil sobre a necessidade da implementação das práticas de segurança nos serviços de saúde para minimizar riscos e danos ao paciente, refletindo na melhoria da qualidade do cuidado prestado nos serviços de saúde do país.

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia, por meio da Diretoria de Defesa Profissional, atua ativamente na produção de ações, campanhas e desenvolvimento de projetos que visam à plena conscientização dos anestesiologistas sobre o desenvolvimento de um ambiente seguro para o paciente, que vão desde a consulta pré-anestésica até o acompanhamento pleno na sala cirúrgica. 

Em 2021, por meio do slogan “Segurança do paciente, eu pratico”, a SBA convidou os profissionais da especialidade a assumirem papel de importância na discussão do tema. Para falar um pouco sobre as ações executadas pela sociedade, o diretor de Defesa Profissional, dr. Luis Antonio Diego, concedeu entrevista para a Anestesia em Revista em que conta um pouco sobre o trabalho da Diretoria executado este ano.  Veja a entrevista na íntegra:

Anestesia em Revista: Qual a importância de falar sobre a segurança do paciente no universo da anestesiologia? 

Dr. Luis Antonio Diego: A segurança do paciente é o maior objetivo da anestesiologia, pois a especialidade não progrediria se a segurança não fosse a prioridade. É só olharmos para a aviação: se todos os dias tivéssemos um avião comercial indo ao chão, a aviação comercial possivelmente nem existiria. 

A anestesiologia tem como objetivo cuidar do paciente durante uma proposta operatória. Esse cuidar vai além do ato de se aplicar uma injeção com um anestésico para dirimir a dor e permitir a realização de uma cirurgia. O anestesiologista, durante a sua atuação perioperatória, procura saber de todos os detalhes do paciente, como possíveis alergias, outras doenças que podem comprometer a própria cirurgia e a experiência em procedimentos anteriores.  

AR: Podemos falar que o anestesiologista é essencial para garantir a segurança no processo cirúrgico? Por quê? 

LAD: O cirurgião ou outro médico que esteja fazendo um procedimento, como um exame invasivo, por exemplo, está centrado na execução do seu procedimento, na cirurgia propriamente dita. O anestesiologista vai, no cuidar, fazer todo o possível para que o paciente saia da cirurgia bem: aquecido, sem dor, com as suas funções fisiológicas equilibradas e, na maioria das vezes, com a possibilidade de uma internação hospitalar menor. Por tudo isso, o anestesista é essencial na grande maioria das cirurgias. 

AR: Dia 17 de setembro foi celebrado o Dia da Segurança do Paciente. Qual a importância de falar sobre a data durante todo o ano? 

LAD: Até o final do século XX, a segurança do paciente estava inserida apenas como uma dimensão da qualidade. Entretanto, um estudo muito importante realizado na década de 1990 pela Harvard University, divulgado internacionalmente, mostrou que a quantidade de eventos adversos que poderiam ter sido evitados não era pequena e, voltando à comparação com a aviação comercial, equivaleria à queda de um grande avião de passageiros por dia; a diferença é que a percepção pela população do dano causado não é o mesmo por ser um dano diluído ao longo do tempo e não divulgado, na maioria das vezes, pela mídia.  

AR: Que ações a SBA executa para garantir a anestesia segura? 

LAD: A SBA possui a Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia (CQSA), que está totalmente direcionada para o conhecimento desses eventos adversos e o estudo deles para que atinjam o menor nível possível, muito embora entenda-se que risco zero não existe, pois o imponderável é próprio da atividade humana. 

AR: Recentemente, a Diretoria de Defesa Profissional lançou um app de eventos adversos. Poderia explicar aos nossos leitores qual a função do aplicativo? 

LDA: O aplicativo Emergências em Anestesia se propõe, principalmente, a prover ao anestesiologista o conhecimento sobre as principais dificuldades observadas no ato anestésico. Ele orienta sobre a conduta em emergências, mas também permite que o próprio anestesiologista, de forma completamente anônima, possa fazer o relato de eventos adversos fortuitos. O principal objetivo é o conhecimento do que houve e a divulgação de medidas preventivas.  

O conhecimento desses eventos adversos, que poderiam de algum modo ser evitados, permite que diversas ações sejam realizadas para tentar minimizá-los. O importante é que a SBA, sabendo o que se encontra mais prevalente, possa atuar com atividades de ensino e educação permanente, de modo a alertar a todos sobre essas situações dissonantes com a segurança do paciente e também a qualidade do trabalho do anestesiologista.  

AR: O que é considerado um evento adverso em anestesiologia? 

LAD: Conceituar “evento adverso” não é simples, quando alguém se detém para estudá-lo com maior profundidade. Entretanto, a definição que ainda me parece mais clara é a do Instituto de Medicina dos Estados Unidos:  um “evento que resulta em danos não intencionais ao paciente por um ato de comissão ou omissão, e não pela própria natureza da doença subjacente ou condição do paciente”. Enfatizo que é apenas um resumo do que realmente se tem ao se estudar a segurança do paciente e todos os tipos de situações indesejáveis na assistência.  

AR: Quais projetos a Diretoria de Defesa Profissional está prevendo para este ano? 

LAD: O Departamento de Defesa Profissional da SBA vem atuando em diversas frentes, como a do lançamento do aplicativo, já mencionado, mas também em ações educativas, como webinários sobre o tema. Além dessas ações mais técnico-científicas, também há um grande trabalho da comunicação da SBA, com diversas ações nas mídias da entidade. Fazemos parcerias importantes com outros organismos nacionais, como a Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado (Sobrap), e também internacionais como a própria European Society of Anaesthesiology and Intensive Care (ESAIC).  

O Boletim Minuto é um meio de comunicação que tem sido muito útil para o associado e tem ajudado a compreender melhor o que o anestesiologista deve fazer para ter a segurança do paciente sempre como prioridade. Outra ação é a divulgação de um podcast quinzenal com algum tema relacionado, com convidados experts no assunto e que podem repercutir para toda a sociedade. A CQSA muito colabora nesses canais de comunicação.  

AR: Qual mensagem o senhor gostaria de deixar aos profissionais da área e aos demais leitores sobre a importância da segurança do paciente?  

LAD: Ninguém se submeteria a um procedimento cirúrgico se não houvesse segurança, além da qualidade do serviço, com um cuidado atento e solidário. O anestesiologista é o “anjo da guarda” que está ao lado da pessoa que estará num ambiente hostil, desconhecido e que usualmente encontra-se frágil pela sua condição. Ter ao seu lado um anestesiologista bem formado e atualizado com todas as inovações tecnológicas, além do exercício genuíno da empatia, é o melhor conselho que podemos dar aos novos especialistas ou a todos aqueles que pretendem abraçar essa linda e estimulante especialidade.  

 


Erros na administração de medicamentos (EAM)

Por Antonio Roberto CARRARETTO, TSA-SBA, MSC, PhD

O anestesiologista planeja, seleciona, prepara e administra os medicamentos. Na indução anestésica é comum o uso de cinco ou mais medicamentos, podendo ultrapassar a dez no ato anestésico. Lidar com embalagens primárias (frascos, ampolas, bolsas) com rotulações diferentes, por vezes, mais voltadas para a identificação da empresa do que do próprio fármaco, podem gerar EAM nas diversas das fases do processo, com consequências que vão desde a lesão temporária/permanente até ao óbito.

Na cadeia de Segurança do Paciente, para a preservação de sua vida, todos são responsáveis desde o diretor do estabelecimento até o farmacêutico e o anestesiologista. Apesar dos EAM ocorrerem pelas mãos do anestesiologista, existem métodos que diminuem esta possibilidade e daí a responsabilidade coletiva. A segurança não deve ser violada pela diferença de custo, já que os acidentes também têm elevado custo nas finanças e na reputação de todos, incluindo a instituição, transformando-nos em segunda vítima. Lembrem-se que administramos medicamentos potencialmente perigosos.

O cansaço e a fadiga de horas acumuladas de trabalho, a sobrecarga de tarefas, a falta de rotinas pessoal e institucional voltada para a segurança, a deficiência na iluminação, a comunicação ruidosa, as interrupções distrativas, os fármacos misturados com rótulos semelhantes e de baixa legibilidade, são as principais causas dos EAM.

As sociedades e organizações de todo o mundo criaram normas técnicas (NT) para evitar o EAM e o sistema ideal possui, no mínimo, uma padronização das embalagens primárias e das etiquetas para as seringas, com cores e tipografia em tamanhos e formatos diferentes.

Como evitar os EAM?

Estar preparado e em condições físicas e mentais requeridas

Selecionar os fármacos a serem utilizados, identificando-os

Identificar a seringa com etiqueta padronizada por códigos de cores

Verificar o frasco/ampola comparando-o com a seringa

No preparo: ler quatro vezes o rótulo do fármaco

Ao retirar o medicamento

Ao preparar e rotular a seringa

Antes de descartar o frasco/ampola

Ao injetar no paciente

Precisamos realizar alterações em diversas fases do sistema tais como:

 

Sistema multimodal desejável para a prevenção dos EAM

Padronização do acondicionamento

Seringas pré-preenchidas

Rótulos grandes com cores para identificação

Códigos de leitura e sistemas aprimorados de rotulagem

Registro eletrônico automatizado

 

ABNT NBR ISO 26825:2021. Equipamento anestésico e respiratório — Rótulos aplicados pelo usuário para seringas contendo medicamentos utilizados durante anestesia — Cores, projeto e desempenho

https://www.asahq.org/standards-and-guidelines/statement-on-labeling-of-pharmaceuticals-for-use-in-anesthesiology (acesso em 19/10/2021)


Boletim Minuto Especial: Dia Mundial da Anestesia

Talvez não exista nenhum avanço no conhecimento da medicina que tenha aliviado mais o sofrimento humano que a descoberta da anestesia. Esse grande presente para a humanidade foi dado por três norte-americanos: Crawford W. Long, Horace Well e William Thomas Green Morton. Esse último revolucionou a medicina, no dia 16 de outubro de 1846, ao usar o éter sulfúrico como indutor da anestesia na que ficou conhecida como a primeira intervenção cirúrgica realizada com anestesia geral durante a extirpação de um tumor de pescoço. 

Depois de 175 anos, na mesma data, o mundo celebra o Dia Mundial da Anestesia, um momento de reconhecer o trabalho de milhares de anestesiologistas no Brasil e no mundo, que são os responsáveis por cuidar do paciente no momento de maior fragilidade, proporcionando segurança e bem-estar durante todo o procedimento. 

No Brasil, antes mesmo da fundação da Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA), dezenas de médicos já discutiam a importância da organização de um grupo para a prevenção de acidentes ligados ao ato anestésico, a promoção da especialidade e a representação profissional. Em 1939, Mario Castro de Almeida Filho, Oscar Vasconcellos Ribeiro e Ivo Lazzarini criaram o primeiro serviço profissional de anestesia na cidade do Rio de Janeiro, o Serviço Médico de Anestesia (SMA). A evolução da anestesia nessa época deveu-se à anestesia geral, que possibilitou o uso de novos equipamentos, como os aparelhos McKesson e Heidbrink, e o emprego de agentes inéditos, como o ciclopropano, usado pela primeira vez no Brasil por Álvaro de Araújo Sales, em 1936.  

Durante algumas décadas, em pleno século XX, a anestesia era administrada por pessoas não credenciadas, como acadêmicos de medicina, irmãs de caridade, atendentes de enfermagem, parteiras leigas, farmacêuticos e até mesmo pessoas que não tinham nenhuma relação com a área médica; até serventes ou ex-pacientes eram chamados para desempenhar a função de administrar o “cheiro” sob o comando, a distância, do cirurgião.  

Com o número crescente de médicos e estudantes interessados em anestesia, clínicas e hospitais foram, paulatinamente, organizando seus serviços de anestesia. No início da década de 1940, diversos colegas passaram a se entusiasmar pela nova especialidade. 

Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) surgiu há pouco mais de 70 anos, em 1948, e desde então abraça a bandeira da representação profissional em paralelo com a formação e certificação de profissionais médicos, ações também essenciais para a evolução contínua da especialidade.   

Fonte: Sociedade Brasileira de Anestesiologia: 65 Anos de História. Editores: Airton Bagatini, Michelle Sales e Silva e Maria de Las Mercedes G. Martin de Azevedo. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Anestesiologia/SBA, 2013. 176 p.; 24,5 cm; ilust. 


Segurança do paciente: uma prioridade global de saúde

Celebrado no dia 17 de setembro, o “Dia Mundial da Segurança do Paciente” tem o objetivo de conscientizar profissionais de saúde, gestores, órgãos governamentais, pacientes, educadores e sociedade civil sobre a necessidade da implementação das práticas de segurança dentro dos serviços de saúde. Tal ação contribui para minimizar riscos e danos ao paciente, refletindo na melhoria da qualidade do cuidado prestado nos serviços de saúde do país.

Os danos ao paciente por eventos adversos são uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) 134 milhões de eventos adversos ocorrem anualmente devido à atenção insegura em hospitais, nos países de baixa e média renda, contribuindo para 2,6 milhões de mortes. Enquanto calcula-se que um em cada 10 pacientes seja prejudicado enquanto recebe atendimento hospitalar, em países de alta renda.

Reconhecendo a segurança do paciente como central na prestação de atenção à saúde e no fornecimento da cobertura universal de saúde, a OMS e o Reino Unido lançaram em conjunto o “Global Patient Safety Collaborative”. O objetivo dessa iniciativa é garantir e ampliar a ação global em relação à segurança do paciente e colaborar estreitamente com países de baixa e média renda para reduzir os danos evitáveis aos pacientes e melhorar a segurança de seus sistemas nacionais de saúde.

No Brasil, o Ministério da Saúde instituiu o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP), por meio da Portaria MS/GM nº 529/2.013, com o objetivo geral de contribuir para a qualificação do cuidado em saúde, em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional, públicos ou privados, de acordo com a prioridade dada à segurança do paciente na agenda política dos estados-membros da OMS.

Como melhorar a segurança do paciente?

Se você é um paciente:

– envolva-se ativamente no seu próprio cuidado;
– é bom fazer perguntas! Cuidados de saúde seguros começam com uma boa comunicação;
– certifique-se de fornecer informações precisas aos profissionais de saúde sobre seu histórico de saúde.

Se você é um profissional de saúde ou líder de serviços de saúde:

– envolva os pacientes como parceiros em seus próprios cuidados;
– trabalhem juntos pela segurança do paciente;
– garanta o desenvolvimento profissional contínuo para melhorar suas habilidades e conhecimentos em segurança do paciente;
– crie uma cultura de segurança aberta e transparente.

Se você é um formulador de políticas:

– investir na segurança do paciente resulta em economia financeira;
– invista na segurança do paciente para salvar vidas e gerar confiança;
– torne a segurança do paciente uma prioridade nacional de saúde.

Se você é um pesquisador, estudante, faz parte de instituição acadêmica ou profissional:

– gere evidências para melhorar a segurança do paciente. Sua pesquisa é importante!
– incentive a pesquisa em segurança do paciente;
– incorpore a segurança do paciente em currículos e cursos.

Se você é de uma associação profissional, organização ou fundação internacional:

– promova a segurança do paciente para alcançar a cobertura universal de saúde;
– ofereça oportunidades de aprendizado e desenvolvimento para a segurança do paciente.

Fontes:

Agência Nacional de Vigilância Sanitária
Ministério da Saúde
Organização Mundial da Saúde
Sociedade Brasileira para a Qualidade do Cuidado e Segurança do Paciente


Suicídio entre anestesiologistas: antes que setembro acabe, precisamos falar sobre isto

Por Michelle Nacur Lorentz

Evidências sugerem ser o profissional de saúde o mais propenso a cometer suicídio que a população geral.  O médico parece figurar como profissão de maior risco e na profissão, a anestesiologia seria uma das especialidades com maior índice de suicídio, atrás apenas da medicina interna e psiquiatria.

Estima-se que 3,2 a 25% dos anestesiologistas já experimentaram comportamento ou ideação suicida e 0,5 a 2% já tentaram autoextermínio. Tais estatísticas colocam o suicídio como um problema de saúde seríssimo em nosso meio, havendo autores que defendem que tal tema deva ser abordado como um problema de saúde ocupacional.

Embora as taxas de suicídio variem entre países, com tendência a diminuição na Europa, os trabalhos de uma forma geral demonstram aumento nas taxas de suicídio entre médicos, principalmente entre as mulheres.

Algumas teorias foram propostas para explicar tal fenômeno, como o estresse, a insatisfação com o trabalho, o burnout, a associação com doenças mentais, as altas cargas laborais, o comportamento compulsivo, a dificuldade do médico em buscar ajuda, o acesso a fármacos letais, além da associação com alcoolismo e drogadição. No caso das mulheres, acrescente o acúmulo de trabalhos e responsabilidade domésticas, sociais e na educação dos filhos.

Adicione a tudo isto as mudanças constantes no mercado de trabalho, judicialização da medicina, pressão por parte dos convênios, pacientes e colegas, perda da autonomia, violência no local de trabalho e diminuição na remuneração. Neste cenário é natural que ocorra grande redução na satisfação profissional.

O suicídio parece ser um processo lento e pouco se sabe sobre a transição entre a ideação suicida, a tentativa de suicídio e a efetivação dele. Mas sabemos que estratégias para prevenir tais situações são necessárias. Sabemos que a prevenção deve começar cedo, tão logo o estudante ingresse na faculdade de Medicina. Sabemos que as estratégias preventivas devem se basear na educação, no autoconhecimento, no trabalho das sociedades e na desmistificação do assunto.

Dia 10 de setembro foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Precisamos falar sobre isto. Precisamos olhar uns pelos outros. A saúde mental de cada anestesiologista importa. Cada vida humana perdida dessa forma configura numa verdadeira tragédia. Precisamos entender os porquês e combatê-los antes que percamos mais colegas de forma tão dramática.


Edição de 1 ano de Boletim Minuto

Por Luis Antonio dos Santos Diego

Há 12 meses, a Diretoria de Defesa Profissional da SBA iniciava um novo projeto de comunicação com os associados: o Boletim Minuto. O objetivo desse canal é estimular as boas práticas da anestesiologia e ressaltar os novos enfoques da qualidade e segurança, além da saúde ocupacional.
O Boletim Minuto surgiu em um difícil momento para a humanidade, especialmente para nós, anestesiologistas, que se viu impactada pela pandemia da Covid-19.

Os desafios foram, e ainda são diversos, como a própria atividade laboral no cotidiano, a sobrecarga de trabalho e a saúde ocupacional, sem contar a perda de valorosos colegas. Neste cenário, o BM foi uma fonte confiável de informação sobre assuntos de extrema relevância para a especialidade.

O sucesso do BM se deve aos diversos colegas que contribuíram de forma voluntária com um conteúdo de extrema qualidade, que foram essenciais para as ações de conscientização e promoção da especialidade, compartilhadas com os mais de 13 mil associados e alcançando milhares de usuários no site da SBA e redes sociais.


Conheça as ações da SBA para a segurança do paciente

Por dr. Luis Antonio Diego
Diretor do Departamento de Defesa Profissional da SBA

O Conselho de Defesa Profissional da SBA reuniu-se no final de junho 2021 para a apresentação das realizações no período e para discutir as futuras ações até o final do ano. O balanço foi muito positivo, com diversas atividades que obtiveram retorno assertivo. Esse mesmo canal, o Boletim Minuto vem sendo acessado por centenas de colegas, assim como o SBA podcast, ambos são divulgados quinzenalmente e informam aos colegas temas da qualidade e segurança em anestesia.

Também temos presença ativa na Anestesia em Revista, a publicação trimestral da SBA. No último número, divulgado no dia 9 de julho, fizemos uma síntese do trabalho que a Comissão Temporária de Telemedicina e Inovação veio realizando no período. Vale conferir!

A Comissão de Qualidade e Segurança em Anestesia também vem realizando um belíssimo trabalho. No mês de junho, sob a coordenação da dra. Michelle Nacur, foi realizado um webinário sobre a Segurança do Paciente, no qual houve o lançamento do aplicativo Emergências em Anestesia.

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Durante o webinário houve a oportunidade de se discutir temas relevantes sobre a segurança do paciente e, principalmente, no engajamento dos anestesiologistas nas atividades do Dia Mundial da Segurança do Paciente, que irão ocorrer em 17 de setembro deste ano. A SBA também irá participar com diversas outras associações e entidades da Aliança Mundial da Segurança do Paciente cuja programação será lançada muito em breve.

A Comissão de Saúde Ocupacional está envolvida na elaboração das atividades do Simpósio de Saúde Ocupacional (SISO) que acontecerá em 21 do próximo mês. Teremos diversos temas a serem abordados, mas a sustentabilidade ambiental e como isso já afeta o nosso cotidiano e comprometerá a nossa e próximas gerações se medidas de preservação ambiental importantes, não só globais e governamentais, mas também locais e individuais, forem implementadas.

Além disso, participamos do coletivo MEDICOVID, que reúne um grupo de sociedades para orientar e discutir a segurança dos medicamentos, principalmente quando falamos em rotulagem e embalagens. Também integram o grupo: ABRAMEDE, AMIB, ISMP, REBRAENSP, SBRAFH e a SOBRASP.

São muitas as atividades que a Defesa Profissional tem participado. Estamos atuando junto com a AMB e o IBDM na defesa do nosso trabalho. Nesse aspecto, são muitos os frutos que o Núcleo de Gestão do Trabalho de Anestesiologista (NGTA), está colhendo, pois todos os meses são oferecidas ao anestesiologista oportunidades de discutir as dificuldades nas relações de trabalho com as operadoras e estabelecimentos de saúde, mas especialmente o que nós, profissionais, podemos contribuir para aumentarmos nosso valor como profissional e também expô-lo a todas as partes envolvidas.

Por fim, continuamos com a Assessoria Jurídica que vem trabalhando muito e respondendo às solicitações dos nossos sócios. O Curso Jurídico vem colocando em pauta muitas das dúvidas que coletamos nas demandas jurídicas.


Gerenciamento da Anestesia Segura

Por dr. Airton Bagatini
TSA-SBA
Responsável pelo CET do SANE
Coordenador da Perspectiva Assistencial do Hospital Ernesto Dornelles de Porto Alegre (RS)
Presidente da SBA – Gestão 2013.

Não restam dúvidas de que os avanços na área da saúde, especialmente no âmbito diagnóstico e cirúrgico, trouxeram benefícios extraordinários para o tratamento de patologias inimagináveis no passado. Porém, estes avanços não são isentos de riscos associados e gerenciá-los é o desafio nas perspectivas atuais.

Neste sentido, a Segurança do Paciente, conceituada como redução a um mínimo aceitável do risco de dano desnecessário associado ao cuidado em saúde ganha espaço e notoriedade. Inúmeras Fundações governamentais e não governamentais, Associações, Redes e Institutos preocupados e interessados no tema foram criadas e a partir destas ações de melhorias, campanhas, protocolos e iniciativas foram propostas visando minimizar o impacto dos erros nas instituições de saúde, garantindo segurança ao paciente, ao profissional de saúde e à própria instituição.

Na prática atual, os resultados destas ações ainda estão longe do ideal e a Segurança do Paciente é considerada um grave problema de saúde pública. O complexo segmento da saúde segue operando com um baixo grau de confiabilidade e os pacientes sofrendo danos preveníveis durante o seu processo assistencial.

A assistência cirúrgica tem papel fundamental neste contexto. Estima-se que mundialmente sejam realizadas 187 a 281 milhões de cirurgias por ano e os resultados alertam para a necessidade urgente de mudança: sete milhões de pacientes cirúrgicos apresentam complicação decorrente do procedimento; a cada quatro pacientes cirúrgicos, um sofre alguma complicação perioperatória; dos eventos adversos em pacientes hospitalizados, em média 50% estão relacionados a cirurgia; a mortalidade varia de 0,4 a 0,8% nos países desenvolvidos e de 5 a 10% naqueles em desenvolvimento; e, 50% das complicações são consideradas evitáveis.

As causas para a ocorrência destes eventos são multifatoriais. Diferentemente do passado, quando se creditava unicamente ao profissional envolvido a culpa pelo incidente, hoje sabe-se que falhas nos processos de trabalho, estrutura física inadequadas das organizações, falhas de comunicação, sobrecarga, distrações e o trabalho solitário do médico são alguns dos fatores que contribuem para a insegurança nas instituições de saúde. Em comparação com uma década atrás, agora temos uma boa compreensão da fenomenologia do erro e do dano.

Na busca por estratégias que de fato garantam uma assistência segura aos pacientes bem como melhorias sustentadas e generalizadas para os sistemas de saúde, partilhar de uma cultura de segurança emerge como um requisito essencial a ser desenvolvido e aprimorado. A segurança deve ser vista através dos olhos dos pacientes e gerenciada com uma visão estratégica e ampla, não simplesmente pontuada em falhas específicas.